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Tarifas de 50% sobre aço e alumínio entram em vigor nos EUA; entenda os impactos para o Brasil


Tarifas de 50% sobre aço e alumínio entram em vigor nos EUA; entenda os impactos para o Brasil

Resumo:

Trump elevou as tarifas sobre aço e alumínio importados para os EUA de 25% para 50%, impactando significativamente o Brasil, segundo maior fornecedor de aço para o país. Especialistas preveem redução nas exportações brasileiras e desafios para o setor siderúrgico.

O aumento nas tarifas sobre importações de aço, alumínio e derivados nos Estados Unidos entra em vigor nesta quarta-feira (4). As cobranças, que até então eram de 25%, passam a ser de 50%, conforme decreto assinado pelo presidente Donald Trump. A medida impacta o Brasil.

No texto, o governo dos EUA afirma que o objetivo das cobranças é garantir a segurança nacional. O Reino Unido, que recentemente chegou a um acordo comercial com os norte-americanos, é a única exceção: continua com tarifas de 25%.

O novo decreto confirma a promessa feita por Trump na última sexta-feira (30). Nas redes sociais, ele havia anunciado sua decisão de dobrar as taxas sob o argumento de “proteger ainda mais a indústria siderúrgica americana”.

“Essa será mais uma grande dose de boas notícias para nossos maravilhosos trabalhadores do aço e do alumínio. Façamos a América grande novamente”, escreveu ele, ao anunciar a medida.

A ação ocorre em um momento em que os EUA buscam negociações mais vantajosas com os países afetados pelo tarifaço imposto por Trump no início de abril. Embora as taxas tenham sido parcialmente suspensas, elas serão retomadas integralmente em 8 de julho — e têm servido como ferramenta do ex-presidente na tentativa de firmar acordos mais favoráveis com outras nações.

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As tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio nos EUA, implementadas durante o atual mandato de Trump, estavam em vigor desde 12 de março.

A aplicação das taxas atingiu diretamente o setor siderúrgico de grandes parceiros comerciais dos EUA, como Canadá e México. O Brasil, segundo maior fornecedor de aço do país, também foi impactado.

Especialistas ouvidos pelo g1 apontam que uma das principais consequências das tarifas é a redução das exportações para os EUA. Além disso, o cenário impõe novos desafios ao setor siderúrgico, que pode ser forçado a redirecionar suas vendas ou, no longo prazo, reduzir a produção.

Para as empresas com fábricas no Brasil, os efeitos variam. De um lado, estão as companhias com forte atuação no mercado externo, que tendem a ser mais prejudicadas pela queda nas exportações.

De outro, estão aquelas com foco maior no mercado interno, que sentem menos o impacto direto. No entanto, essas empresas enfrentam o desafio de lidar com o possível aumento da oferta de produtos no mercado doméstico — o que pode pressionar os preços e reduzir as margens de lucro.

Procurado pelo g1 para comentar a nova medida, o Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas brasileiras, não se pronunciou. Em nota publicada em março, quando passou a valer a taxa de 25%, a entidade disse estar confiante no diálogo entre os governos brasileiro e norte-americano.

Os impactos para o Brasil

O Brasil é, em volume, o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, conforme dados do Departamento de Comércio norte-americano. Ao todo, foram 4,1 milhões de toneladas em exportações para o país em 2024.

Os números ficam atrás apenas do Canadá, responsável por 6 milhões de toneladas ao mercado norte-americano. Em terceiro lugar, vem o México, com o envio de 3,2 milhões de toneladas.

Ao todo, cerca de 25% do aço utilizado nas indústrias dos EUA é importado. No caso do alumínio, cujo principal exportador para o país também é o Canadá, essa parcela é de 50%.

José Luiz Pimenta, especialista em comércio internacional e diretor da BMJ Consultoria, explica que os EUA são grandes consumidores de aço e alumínio no cenário global — insumos importantes para a produção de automóveis, eletrodomésticos, eletrônicos, construção civil, entre outros setores.

“Brasil e Canadá são os países mais afetados em termos de exportação. O que tende a ocorrer é um efeito de diminuição de importações [pelos EUA] desses países, sobretudo de aço, no curto e no médio prazo”, diz, sobre a criação das taxas.

Segundo Pimenta, o cenário exige que o Brasil diversifique os destinos dos produtos, buscando mercados em outros países — tarefa difícil, já que a concorrência esbarra na China, uma grande exportadora. Outra alternativa seria tentar vender o excedente no próprio mercado nacional.

Lia Valls, pesquisadora associada do FGV Ibre e professora da UERJ, acredita que, apesar da concorrência, parte das exportações podem até ser absorvidas pelo gigante asiático.

“A China prefere comprar produtos semifaturados [placas de aço e chapas de alumínio]. Ou seja, pode importar esses materiais para transformar em produto final”, exemplifica. “Mas, em um primeiro momento, não está muito óbvio para onde as exportações brasileiras serão dirigidas.”

Para o especialista em comércio exterior Jackson Campos, o cenário de queda nas exportações para os EUA também pode, em um segundo momento, prejudicar o mercado de trabalho na siderurgia brasileira.

“Com menos demanda, as fábricas podem ter que diminuir sua produção, o que pode levar a cortes de empregos. Muitas pessoas que trabalham diretamente na produção de aço e alumínio, além de setores como transporte e mineração, podem ser afetadas”, diz.

Como as taxas atingem as empresas

Os impactos das tarifas de Trump nas empresas do país foram avaliados em relatório do Itaú BBA, no início de março. Segundo o banco, empresas exportadoras não listadas na bolsa de valores brasileira — que representam mais de 80% das vendas de aço para fora do país — serão as que mais sentem os efeitos negativos dessas medidas.

É o caso de multinacionais com operação no Brasil, como a ArcelorMittal e a Ternium, indica o Itaú. As companhias produzem placas de aço, que são compradas em grande escala pelos EUA e processadas para uso no mercado doméstico. Diante das taxas, os fluxos podem diminuir, afetando essas (e outras) empresas.

Por outro lado, o relatório aponta que siderúrgicas brasileiras como a Gerdau, Usiminas e CSN não seriam tão prejudicadas. O motivo é que as exportações são menos significativas para a operação dessas companhias, conforme explicou à BBC Daniel Sasson, analista do Itaú BBA para o setor de mineração e siderurgia.

Em nota publicada após o anúncio de tarifas de 25% por Trump, o Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas brasileiras, informou ter recebido “com surpresa” a decisão do governo dos EUA.

Em março, o instituto disse estar confiante “na abertura de diálogo entre os governos dos dois países, de forma a restabelecer o fluxo de produtos de aço para os EUA nas bases acordadas em 2018”, ano em que foi estabelecida uma cota de exportação.

As tarifas — e o vaivém — de Trump

Donald Trump assinou em 10 de fevereiro o decreto que impõe tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio do país. O início das cobranças foi em 12 de março.

O objetivo de Trump ao taxar produtos de outros países é priorizar e incentivar a indústria local. Ele espera que, com custos de importação mais altos, haja um aumento na procura e na produção de insumos nacionais.

“A nossa nação precisa que aço e alumínio sejam produzidos nos EUA, não em terras estrangeiras”, afirmou o republicano em fevereiro, ao assinar a ordem executiva que determinou a cobrança das tarifas.

Desde que assumiu seu segundo mandato, o republicano tem anunciado diversas taxas de importação. Trump prometeu, ainda durante a campanha eleitoral, tarifar uma série de produtos de outros países, em especial do Canadá e do México, seus principais parceiros comerciais.

Anunciou também seu tarifaço, no início de abril, que atingiu mais de 180 países. A medida chegou a ser suspensa na última semana pela Justiça dos EUA, mas outra decisão retomou as cobranças, que seguem em 10% para a maioria das nações.

Produtos da China e de alguns setores específicos, como no caso do aço, seguem enfrentando alíquotas mais altas.

Histórico de taxas

Essa não é a primeira vez que Trump aplica taxas sobre aço e alumínio importados nos EUA. Durante seu primeiro mandato, entre 2017 e 2021, ele criou tarifas e outras restrições para a importação desses produtos — mas todas haviam sido posteriormente retiradas.

Veja a retrospectiva:

  • Em março de 2018, os EUA impuseram uma taxa de 25% sobre todas as importações de aço e de 10% sobre as de alumínio;
  • O governo americano decidiu excluir Canadá e México, dois dos maiores fornecedores dos EUA, dessas tarifas e permitiu que outros países solicitassem inclusão em uma lista de exceção;
  • O Brasil fez o pedido e foi aprovado. Os EUA criaram um esquema de cotas para as exportações brasileiras;
  • O esquema de cotas permitia que produtos de aço ou alumínio semiacabados (usados como insumos para outras produções) fossem exportados até atingir um volume equivalente à média das exportações de 2015 a 2017;
  • Para os produtos acabados, o limite de exportação era 30% menor que a média das exportações do mesmo período;
  • Em agosto de 2018, as regras para a compra de aço foram flexibilizadas, permitindo que empresas americanas comprassem matéria-prima brasileira se comprovassem falta de oferta do produto nos EUA;
  • Em dezembro de 2019, Trump acusou o Brasil de desvalorizar o real para estimular a compra de produtos brasileiros e prometeu reinstaurar as taxas de 25% e 10% sobre aço e alumínio, respectivamente;
  • Dias depois, o então presidente Jair Bolsonaro afirmou que conversou com Trump e que os EUA desistiram de sobretaxar o aço e alumínio brasileiros;
  • Em agosto de 2020, Trump restringiu ainda mais as cotas de exportação dos produtos brasileiros para os EUA, reduzindo-as em cerca de 80%;
  • Nos últimos meses do governo Trump, em outubro de 2020, o presidente decidiu elevar as tarifas sobre as chapas de alumínio importadas do Brasil de 15% para 145%, alegando que as empresas brasileiras estavam vendendo produtos abaixo do custo para eliminar a concorrência americana;
  • Em julho de 2022, já sob o governo de Joe Biden, o Ministério da Economia e o Ministério das Relações Exteriores do Brasil anunciaram que os EUA revogaram as medidas restritivas remanescentes da era Trump contra as exportações brasileiras.

Análise e Impactos Financeiros

A decisão de Donald Trump de dobrar as tarifas sobre aço e alumínio importados para os EUA, de 25% para 50%, apresenta implicações significativas para as finanças pessoais, o mercado financeiro e a economia global, especialmente para o Brasil, segundo maior fornecedor de aço para o país. A medida, além de impactar diretamente as empresas exportadoras brasileiras, pode gerar um efeito cascata com consequências para o consumidor final, tanto no Brasil quanto nos EUA.

Para os brasileiros, o impacto mais direto se dá na redução das exportações de aço e alumínio para os EUA. Empresas exportadoras, principalmente as não listadas em bolsa, serão mais afetadas, podendo experimentar quedas em receitas e lucros, o que pode levar à redução de investimentos, demissões ou até mesmo fechamento de unidades. Para o consumidor, o cenário pode trazer aumento de preços em produtos que utilizam aço e alumínio em sua fabricação, uma vez que a redução das exportações pode elevar os preços internos destes insumos. É importante lembrar que aço e alumínio são matérias-primas essenciais em diversos setores, desde a construção civil até a indústria automobilística, afetando assim uma grande variedade de bens e serviços. A diversificação de mercados externos se torna crucial para as empresas brasileiras, mas a forte concorrência internacional, principalmente da China, apresenta um desafio considerável.

No mercado financeiro, a notícia pode causar volatilidade nas ações de empresas brasileiras do setor siderúrgico. Investimentos em ações dessas empresas podem se tornar mais arriscados no curto prazo, exigindo uma análise cuidadosa do investidor. A taxa de câmbio também pode ser afetada, com uma possível desvalorização do real frente ao dólar, dado o impacto negativo nas exportações brasileiras. Por outro lado, empresas brasileiras voltadas para o mercado interno podem se beneficiar de uma maior demanda doméstica, caso os preços internacionais de aço e alumínio se elevem significativamente. É crucial monitorar indicadores econômicos como o PIB industrial, o índice de produção industrial e o saldo da balança comercial para avaliar o real impacto desta medida.

As tendências econômicas decorrentes desta ação protecionista de Trump reforçam a necessidade de uma política econômica brasileira mais voltada para a diversificação e a competitividade. A dependência excessiva de um único mercado externo, mesmo um tão importante quanto o americano, expõe a fragilidade da economia brasileira. A busca por acordos comerciais com outros países, o investimento em inovação tecnológica e a melhoria da infraestrutura são essenciais para mitigar os riscos e aproveitar oportunidades em um cenário global cada vez mais complexo. O governo brasileiro precisa atuar ativamente na busca de soluções diplomáticas e no apoio às empresas afetadas, como a criação de linhas de crédito mais acessíveis e incentivos fiscais. Para os investidores, a diversificação da carteira, com investimentos em setores menos sensíveis a esse tipo de choque externo, é uma estratégia fundamental.

Em resumo, a situação exige atenção e cautela. A elevação das tarifas cria riscos tanto para as empresas exportadoras brasileiras quanto para o consumidor, com potenciais impactos na inflação e no emprego. No entanto, também existem oportunidades para empresas que conseguirem se adaptar rapidamente, diversificando seus mercados e investindo em inovação para aumentar sua competitividade. Recomenda-se aos leitores que acompanhem de perto a evolução da situação, consultem especialistas financeiros para tomada de decisões e busquem alternativas para proteger seus investimentos e suas finanças pessoais.

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Fonte:

g1 > Economia

Publicado originalmente em: 4 de junho de 2025 às 1:00 AM

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