Como o Preço de Empanadas Gerou Polêmica Entre Ator Argentino e Ministro de Milei
O Debate
Uma polêmica inusitada sobre o nível de preços agitou a Argentina no último fim de semana. O debate começou quando o ator Ricardo Darín citou o alto custo das empanadas para criticar a situação econômica do país, sendo posteriormente contestado pelo ministro da Economia, Luis Caputo.
O protagonista da série “O Eternauta” também questionou a eficácia de uma nova medida econômica lançada pelo governo para estimular o consumo. A proposta permite que os argentinos utilizem os dólares guardados “debaixo do colchão” — expressão popular que se refere ao dinheiro não declarado.
Ao ser questionado na noite do último sábado (24) sobre a situação da Argentina, durante o programa de televisão apresentado por Mirtha Legrand, Darín respondeu com ironia: “acho fantástico”.
O país enfrenta uma taxa de pobreza de 38%, consumo em queda há 15 meses e a maioria dos aposentados recebe apenas um terço do valor da cesta básica.
“Na verdade, não entendo nada. Fico intrigado com essa história de resgatar os dólares do colchão. De quem estão falando? Uma dúzia de empanadas custa 48.000 pesos (cerca de 237 reais), então realmente não entendo do que estão falando. Há muita gente passando por um momento muito difícil”, destacou Darín.
Legrand concordou: “Os preços estão terríveis, terríveis. O dinheiro não é suficiente”, disse.
O comentário repercutiu nas redes sociais, e o ministro da Economia respondeu por meio da plataforma X.
“As empanadas não custam isso, Ricardito. (…) Pode ficar tranquilo, Ricardo. As pessoas comem empanadas deliciosas por 16.000 pesos [o equivalente a R$ 79]”, escreveu Caputo.
A Política de Milei
Desde que assumiu a Presidência da Argentina, em 2023, o ultraliberal Javier Milei tem adotado uma política de austeridade que ele próprio simboliza com uma motosserra.
Desde o início de seu mandato, eliminou milhares de cargos públicos e tem conseguido equilibrar as contas do país pela primeira vez em décadas.
Milei também liberou os preços de medicamentos, alimentos e tarifas de serviços públicos. Paralelamente, cortou aposentadorias, eliminou pensões e impôs limites aos reajustes salariais tanto no setor público quanto no privado, o que reduziu drasticamente o poder de compra da população.
Com essas medidas, o governo conseguiu reduzir a inflação pela metade. O índice caiu de 211% em 2023 — ano em que Milei desvalorizou o peso em 50% — para 118% em 2024, registrando 47% na taxa interanual de abril.
Também em abril, o país recebeu um novo empréstimo de US$ 20 bilhões (R$ 113 bilhões, na cotação atual) do FMI (Fundo Monetário Internacional) — um voto de confiança do organismo, que em 2018 já havia concedido à Argentina o maior financiamento de sua história: cerca de US$ 45 bilhões (aproximadamente R$ 174 bilhões, na cotação da época).
Fonte: g1 > Economia
Publicado originalmente em: maio 27, 2025 às 8:02 am
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Análise e Impactos Financeiros
A polêmica sobre o preço das empanadas na Argentina, embora aparentemente trivial, reflete uma grave crise econômica com impactos profundos nas finanças pessoais, no mercado e nas tendências econômicas do país. A disparidade entre o preço citado pelo ator Ricardo Darín (48.000 pesos) e a contra-argumentação do ministro Caputo (16.000 pesos) evidencia a volatilidade de preços e a falta de transparência que afeta diretamente a população. Para os argentinos, essa instabilidade se traduz em dificuldade de planejamento financeiro, pois a incerteza sobre o custo de bens básicos inviabiliza o controle de gastos e a previsão de orçamento doméstico. A alta inflação, mesmo reduzida pela metade em comparação com 2023, continua em níveis extremamente elevados (47% na taxa interanual de abril de 2025), corroendo o poder aquisitivo e levando a uma diminuição drástica do consumo, como apontado pela notícia (queda há 15 meses). A taxa de pobreza de 38% ilustra a gravidade da situação, com muitos argentinos incapazes de suprir suas necessidades básicas.
O mercado financeiro argentino também sofre impactos significativos. A alta inflação gera incerteza para investidores, tanto domésticos quanto estrangeiros, desencorajando investimentos de longo prazo e favorecendo a especulação. A medida governamental de permitir o uso de dólares “debaixo do colchão” pode, a curto prazo, injetar liquidez na economia, mas também pode alimentar ainda mais a inflação se não for acompanhada de políticas fiscais e monetárias sólidas. A dependência de empréstimos internacionais, como o recente aporte de US$ 20 bilhões do FMI, demonstra a fragilidade da economia argentina e a sua vulnerabilidade a choques externos. A longo prazo, essa dependência pode levar o país a uma situação de dívida insustentável, com consequências devastadoras para a economia. O corte de gastos públicos, ainda que tenha demonstrado resultados positivos na redução da inflação, também teve impactos negativos diretos no bem-estar social, com cortes de aposentadorias e pensões.
A liberação dos preços de medicamentos, alimentos e tarifas de serviços públicos, combinada com o controle salarial, demonstra uma abordagem ultraliberal com potencial para exacerbar as desigualdades. Enquanto a inflação é controlada, a distribuição de renda se torna ainda mais concentrada, aprofundando o fosso entre ricos e pobres. Essa política cria um cenário de oportunidades apenas para aqueles com maior poder aquisitivo, que podem se beneficiar da redução da inflação, enquanto a maioria da população sofre com a redução do seu poder de compra. A falta de investimentos em políticas sociais e a ausência de redes de proteção robustas aumentam os riscos sociais e econômicos para a grande parte da população.
Diante desse cenário, é fundamental que os leitores busquem diversificar seus investimentos, protegendo-se da inflação. Considerando a instabilidade cambial, alternativas como investimentos atrelados ao dólar ou em ativos internacionais podem ser mais conservadoras. No entanto, é crucial buscar aconselhamento profissional antes de tomar qualquer decisão de investimento. Para o cidadão comum, a recomendação é priorizar o controle rigoroso de gastos, a busca por fontes de renda alternativa e a formação de uma reserva de emergência em moeda estrangeira, se possível, para se proteger da alta inflação e da volatilidade cambial. É também crucial acompanhar atentamente as notícias econômicas e políticas da Argentina, entendendo os impactos das decisões governamentais no seu dia-a-dia. A situação econômica argentina exige cautela e planejamento, especialmente para aqueles com menor poder aquisitivo, que são os mais vulneráveis aos efeitos da crise.
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