Por que as Principais Companhias Aéreas do Brasil Tiveram que Pedir Recuperação Judicial?
O Pedido de Recuperação Judicial da Azul
A Azul entrou com um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos na quarta-feira (28), tornando-se a terceira principal companhia aérea brasileira a adotar essa medida. A Gol recorreu ao processo em janeiro de 2024, devido a dívidas estimadas em cerca de R$ 20 bilhões, e busca sair do processo após a aprovação de seu plano de reestruturação pela Justiça dos EUA. A Latam Brasil já havia adotado a medida em 2020 e conseguiu reverter a situação.
O objetivo das empresas ao recorrerem ao Capítulo 11 da Lei de Falências dos EUA é garantir a continuidade das operações e atendimento aos clientes, enquanto trabalham na reestruturação financeira. A operação continua funcionando.
O processo deve permitir que a Azul elimine mais de US$ 2 bilhões (aproximadamente R$ 11,28 bilhões) em dívidas, após ser impactada pela pandemia de Covid-19, instabilidades macroeconômicas e dificuldades na cadeia de suprimentos da aviação, segundo o CEO John Rodgerson.
Causas da Crise no Setor Aéreo Brasileiro
Segundo especialistas, os pedidos de recuperação judicial refletem o acúmulo de prejuízos desde o início da pandemia. Antes da crise, o cenário era mais favorável: o preço do petróleo e do querosene de aviação (que pode representar até 40% do custo de uma passagem) estava mais baixo, as taxas de juros estavam em queda e o dólar era menos valorizado.
Com a pandemia, a venda de passagens despencou devido ao isolamento social e ao comprometimento da renda dos brasileiros. Apesar da queda nas receitas, os custos fixos permaneceram (leasing de aeronaves, sistemas de venda de passagens e salários).
O setor aéreo sempre enfrentou forte concorrência de preços. A valorização do dólar e o aumento dos juros nos últimos anos elevaram ainda mais os custos, já que grande parte das aquisições do setor é feita em dólar. Dificuldades financeiras afetam contratos de leasing, podendo levar à retomada de aeronaves pelas empresas arrendadoras.
Diferentemente dos EUA e da Europa, as companhias aéreas brasileiras não receberam apoio governamental no pós-pandemia.
A recuperação judicial permite reorganizar dívidas, estender prazos e reduzir encargos, melhorando o fluxo de caixa e permitindo a continuidade das operações, investimentos em manutenção e pagamento adequado aos funcionários.
Outros Fatores Contribuintes
A crise é agravada pela elevada carga de impostos, segundo o consultor de aviação Gianfranco “Panda” Beting. O governo brasileiro onera o combustível, possui um sistema tributário complexo e não cria condições adequadas para o desenvolvimento do setor. O alto custo da contratação formal e a falta de modernização na gestão do tráfego aéreo também contribuem para o problema.
O economista Ingo Plöger destaca a falta de uma estratégia clara de médio e longo prazo, especialmente quanto à conectividade regional. A falta de planejamento compromete o crescimento e a competitividade do Brasil no cenário internacional.
Análise e Impactos Financeiros
A recuperação judicial da Azul, após Gol e Latam, tem implicações significativas para as finanças pessoais, o mercado financeiro e as tendências econômicas brasileiras. Embora o Capítulo 11 permita a reestruturação sem interromper operações imediatas, o cenário exige atenção.
Impactos em Investimentos
Para investidores, a situação representa um risco considerável. Ações de companhias aéreas são voláteis, e este evento exacerba essa volatilidade. Investidores com exposição direta a ações da Azul ou a fundos de investimento no setor aéreo devem avaliar seus portfólios e considerar a diversificação. A recuperação judicial não garante retorno do investimento e há a chance de perdas significativas. A crise pode afetar indiretamente outros investimentos.
Impactos em Finanças Pessoais
O impacto nas finanças pessoais é indireto, mas relevante. A crise pode resultar em preços de passagens mais altos a longo prazo, afetando o orçamento de famílias. A instabilidade do setor pode impactar o mercado de trabalho. A dificuldade financeira do setor aéreo pode sinalizar problemas na economia brasileira como um todo.
Tendências Econômicas
A crise evidencia fragilidades estruturais da economia brasileira: alta carga tributária, falta de infraestrutura adequada e ausência de apoio governamental contribuíram para a situação atual. A dependência de financiamento externo expõe a vulnerabilidade do setor às flutuações cambiais e taxas de juros internacionais. A falta de estratégia de longo prazo limita o crescimento potencial e a competitividade internacional.
Oportunidades
Oportunidades podem surgir: empresas de consultoria em reestruturação financeira, empresas de tecnologia que oferecem soluções de otimização de custos e companhias aéreas menores podem se beneficiar. No entanto, é importante enfatizar que tais oportunidades exigem uma análise criteriosa do mercado e um conhecimento profundo do setor.
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